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Foto do escritorJoão Chiabi Duarte

Um jogo marcante na minha história de cruzeirense

Mundo Azul,


O mote desta COLUNA DE ESTRÉIA no DEBATEZEIROS foi um jogo marcante na minha vida – Cada um de nós tem a sua história. Uns nascem em lar cruzeirense e seguem os pais. Outros, embora não tenham pais cruzeirenses se apaixonaram pelas nossas cores em função das grandes conquistas e pela beleza da nossa camisa azul estrelada. Outros nascem até mesmo em lares atleticanos, mas, não resistem ao encanto e beleza da nossa camisa. O meu caso é uma variante destas.


O meu pai era banguense legítimo, mas, ao invés de me converter ao time dele, campeão carioca de 1966, fui eu que o convenci a fazer do Cruzeiro o seu time de coração.


Quando eu tinha 4 anos, em 1963, fui acometido de uma doença chamada CRUPE (O crupe é causado por uma infecção viral tal como o vírus de Parainfluenza, ou pelo vírus de sarampo, pelo vírus syncytial respiratório (RSV), pelos vírus adenóides ou pelo vírus da gripe), que é uma doença que provoca o bloqueio das vias respiratórias e pode levar à morte da criança, que ainda não desenvolveu a resistência aos micro-organismos. Eu era alérgico a SULFA e a penicilina ainda era droga experimental, a questão era muito séria, pois, a diagnose não era simples.


Eu tive que ser levado às pressas para BH, onde fiquei me recuperando por longo tempo (até 1965), na casa dos meus tios Wilson Saliba (presidente do Cruzeiro em 1942, quando da mudança de Palestra para Cruzeiro) e Antônia Chiabi Saliba, ali na rua Araguari. Por recomendação médica eu tinha que tomar banho de sol e adivinhem onde isto acontecia? Sim, no estádio JK.


A minha babá era bonita, da roça, morena de olhos azuis e naturalmente, os jogadores se aproximavam dela. A doença me debilitou demais, perdi muito peso e por esta razão os ossos ficaram fracos. Eu gostava de ver os treinos e ficava assentado quieto e observando aqueles que anos depois me dariam grandes alegrias.


No Natal de 1966, como prêmio por eu ter passado de ano com ótimas médias e para comemorar o título de campeão brasileiro de 1966, eu ganhei de presente 2 camisas do Cruzeiro, a amarela do Raul e a azul estrelada (com 3 números 5, 9 e 10), que eram os números de Piazza, Evaldo e Dirceu Lopes que entre os jogadores do Cruzeiro eram os que mais conversavam comigo, claro que de olho na Luzia (rs, rs, rs). Estes continuam sendo meus ídolos até hoje.


Mas, como diria Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas. Era o fim de ano de 1967 e de novo como recompensa por mais uma ótima temporada escolar eu ganhei o convite para assistir a um jogo no Mineirão. Eu estava na casa dos meus tios Oswaldo Queiroz e Zenaide Chiabi de Queiróz, onde a maioria esmagadora era atleticana. Eles me faziam galhofa dizendo que o Laci iria acabar com o Cruzeiro, que é isto e aquilo... Mas, eu preferi ir ao jogo com o meu padrinho Wilson Saliba, afinal já sabia o que eu queria. Não iria ceder a pressão de forma nenhuma.


Fomos ao jogo de cadeira numerada. Chegamos cedo ao Mineirão e de onde eu estava dava para ver onde meu tio Oswaldo se assentara com os meus primos Chico, Beth, Paulo Henrique e Oswaldo Luiz, que eram da minha idade.


Foi realmente um jogo muito emocionante. Logo aos 5 minutos do 1º tempo, o maior craque do Cruzeiro, Tostão se contunde seriamente e é substituído por Zé Carlos. Antes de findar o 1º tempo, os adversários já ganhavam de 2 x 0, com gols de Laci aos 21’ e de Ronaldo Drummond (primo do Tostão) aos 39’. Para complicar ainda mais as coisas Cruzeiro ainda teve Procópio expulso.

Zé Carlos (Cruzeiro) e Ronaldo Drummond (Alt.Mineiro). Foto: Arquivo Estado de Minas

Do outro lado, meus primos faziam sinais e mostravam a mão cheia (símbolo de goleada). Os radialistas cacarejantes já davam a primeira vitória cacarejante no Mineirão sobre o Cruzeiro como certa, nos comentários do intervalo, que eu escutava pela rádio Guarani, onde o narrador era mais cruzeirense (Jota Júnior) ou seria menos atleticano, segundo meu tio Wilson falava.


Com a saída do Procópio, o grande capitão Wilson Piazza foi jogar de quarto zagueiro e mesmo sendo aquela a primeira vez que atuava na posição teve um desempenho excepcional. Tanto que passou a ser escalado mais vezes como zagueiro (e certamente foram estas partidas que inspiraram Zagallo a lançá-lo como zagueiro titular na Copa de 70), porque no meio um garoto vindo do Sport de Juiz de Fora começava a encher os olhos de todos os que gostavam de futebol. Era o maestro Zé Carlos.


O Cruzeiro se armou diferente. A linha de defesa com PP, Victor, Piazza e Neco. O meio com Zé Carlos, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira. E na frente Evaldo e Natal. E muita rotação em campo.


A chapa esquentou de vez e os atleticanos ficaram ainda mais eufóricos com o 3º gol alvinegro outra vez marcado por Laci (que era um mulato de canelas compridas, muito veloz, ponta de lança de drible fácil e que se parecia muito com o Paulo Isidoro que fez sucesso com a camisa deles, mas, veio ganhar títulos importantes foi do lado de cá da Lagoa da Pampulha) aos 15’ da etapa final.


O Mineirão, com grande maioria cacarejante cantava “loas” ao time alvinegro, mas, logo em seguida, numa jogada boba no meio-campo, tentando esnobar o Natal, o Laci depois de dar uma caneta no ponta do Cruzeiro, rolou a bola para a lateral e caiu no chão, como se tivesse tendo um ataque de riso. Aquele gesto acabou por acender a chama do Flecha Louro. Na sequência deste lance, Natal avança e limpa dois adversários e da intermediária pegou um pombo sem asas, que Hélio não tinha como fazer a defesa e fez Cruzeiro 1 x 3 Atlético-MG.


Este gol animou a garotada azul e menos de 2 minutos depois, Natal, sempre ele, se aproveita de um vacilo da zaga atleticana e surge como um raio no meio de 3 defensores deles para, na raça, reduzir a vantagem atleticana para 3 x 2. Aquele gol deu ainda mais gás para a garotada cruzeirense e a pequena torcida que se espremia da divisa das cativas até o placar eletrônico do gol da cidade começou a cantar forte. De um jogo ganho e favas contadas pela empáfia cacarejante, de repente tudo começava a ruir, pois, agora a pequena torcida azul que permanecera no estádio agora calava o silêncio sepulcral do outro lado.


Já não se notava nas vozes dos narradores, todos irremediavelmente ligados ao lado sofredor da Lagoa da Pampulha (naqueles tempos era muito comum se levar o rádio de pilha para o estádio e todo mundo ouvia sem reclamações), a mesma alegria e serenidade. Foi quando o grande zagueiro cacarejante Grapette fez um pênalti no Natal aos 30’ da etapa final. Raul sai do gol e manda o Flecha bater a penalidade, mas, o louro dando uma de “esperto” falou para o nosso grande goleiro: “Deixe outro bater...eu tô morto!” Foi quando bateu o maior desespero neles. O nosso capitão vendo que ninguém havia se apresentado para bater o pênalti, pegou a bola e se dirigiu à marca penal com a branquinha debaixo do braço. Raul e Natal viraram-se de costas para não ver o chute (todos sabiam que Piazza nunca era um grande cobrador de pênaltis) e só explodiram de alegria ao ver a torcida celeste vibrando à direita das cabines de rádio.

Pênalti cobrado por Piazza. Placar final 3x3. Foto: Arquivo Estado de Minas

Anos mais tarde, Piazza disse que bateu por impulso, porque se olhasse com calma não deveria ter cobrado a penalidade. O pior é que o goleiro Hélio, ao quase pegar a bola, teve uma contração facial, que na foto dos jornais parecia que ele estava rindo, após se levantar para buscar a bola no barbante. Eles precisavam de um bode expiatório, para justificar mais uma amarelada diante da camisa azul e condenaram o goleiro, dizendo que ele rira após a marcação do gol de empate do Cruzeiro.


E mais, o Cruzeiro mesmo com dez, empurrou a cachorrada (como eram chamados os torcedores adversários) para dentro do campo deles. Literalmente botou o time deles na roda e Zé Carlos quase fez o gol da vitória ao carimbar a trave com um tirambaço de direita numa cobrança de falta, já aos 44 minutos do 2º tempo. A torcida azul delirava no estádio e saiu de campo cantando assim: “Ei, ei, ei o meu time é campeão, virou na cachorrada, sem Procópio e sem Tostão” ... A virada foi tão marcante, que o Cruzeiro descontou a vantagem atleticana no Campeonato Mineiro e empatou em pontos ao final da última rodada do returno, porque o Atlético ficou num empate de 1 x 1 com o Villa Nova, obrigando à disputa final em 2 partidas.


O TRICAMPEONATO Mineiro veio já no início de 1968, com 2 vitórias seguidas sobre o rival citadino por 3 x 1 e por 3 x 0 (que vou contar em outra coluna).


SÚMULA DA PARTIDA - ATLÉTICO-MG 3 X 3 CRUZEIRO


🏆 Motivo : 13ª rodada do returno do Campeonato Mineiro de 1967

📆 Data, hora e local : 26/11/1967, domingo, 16:00 h, Mineirão

♦ Atlético-MG : Hélio, Canindé (Dilsinho), Vânder, Grapette e Décio Teixeira; Vanderlei Paiva e Amaury; Buião, Laci, Ronaldo e Tião. DT: Fleitas Solich.

⭐ Cruzeiro : Raul, Pedro Paulo, Victor, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão (Zé Carlos), Evaldo e Hilton Oliveira. DT: Orlando Fantoni.

⚽ GOLS : Laci 21’, Ronaldo 39’, Laci 60’, Natal 61’, Natal 63’ e Piazza 75’(pênalti).

🚩Arbitragem : Etelvino Rodrigues + Gazi Aluani e Melchizedeque Zanoni (Fed. Paulista Futebol)

🚻 Público Pagante : 90.838 (Presentes 110 mil pessoas)

💰Renda : NCr$ 272.761 (US$ 100,464.45) à Ticket Médio = US$ 1,11 (R$ 4,15 cotação de hoje), para vocês verem como naqueles tempos o futebol era realmente popular.


Vejam que passados mais de 40 anos deste jogo as coisas não mudaram muito na imprensa mineira. Sempre o time deles é o melhor, vai ganhar tudo, mas, quando a bola rola, na verdade são eles que continuam morrendo de medo do Cruzeiro. Este jogo foi apenas uma das primeiras amareladas deles no Mineirão, hoje conhecido como Toca da Raposa III. E com razão.


☻ A homenagem desta coluna vai para um grande time de amigos cruzeirenses: Lenna Lopes, Vinicius Fortunato, Carol Senna, Ezequiel Silva, Pablito TFC, Isaac Mirai, Márcio Yguer, Álisson Guimarães, Marcelo Mendicino, Carlos H. C. Campos e Alexandre Comoretto Gaúcho. E para comandar este timaço a escolhida é Renata Batista (a famosa Renatinha do Cruzeiro).


☻ E de Conceição do Mato Dentro-MG : Orlando Augusto Carneiro Guerra, Otacílio Costa Neto, Cristiano Simões, Rodrigo Lazarinni, Eliezer de Oliveira Mattos Jr., Rúbia Santa Bárbara, Maria Fernanda & Maria Eduarda Costa Mattos, Gleyson Lages, Leonardo de Souza Mattos e Renilson Marcos de Lima Guimarães (Pico). E para comandar este escrete azul, o escolhido é o meu compadre Eliezer de Souza Mattos, um dos maiores cruzeirenses que eu conheço.


Cruzeiro, Cruzeiro Querido...Tão Combatido, Jamais Vencido


Eu, Presidente Wagner Pires de Sá e Fernando Torquetti, no Mineirão

Por: João Chiabi Duarte - @JoaoChiabDuarte


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