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Foto do escritorJoão Chiabi Duarte

Nosso 19º Título – Campeonato Mineiro de Futebol de 1972

Hoje, gostaria de relembrar uma conquista memorável do Cruzeiro, revisitando uma PÁGINA HERÓICA E IMORTAL da nossa história.


Nosso 19º Título – Campeonato Mineiro de Futebol de 1972 – Um pouco de história. Este jogo tem uma importância especial para mim. Naquele dia, no campo do Esporte Clube Conceição, na minha querida terra, eu havia saído de um primeiro tempo horroroso no qual meu time havia levado um banho de bola e eu inclusive, sendo destroçado pelo ponta direita do time adversário no jogo dos times A e B do infanto-juvenil do Esporte, para um segundo tempo glorioso quando viramos o placar para 4 x 3, com participação direta minha em dois gols, mas, sofremos o gol de empate no último minuto. Meus tios atleticanos pegando no meu pé no estádio, me enfezando o jogo inteiro, dizendo que eu ia perder ali o jogo do infanto e que a taça mesmo viria mais tarde na final do Campeonato Mineiro...


Sumi de casa e fui escutar o jogo no rádio de D. Delilah Brasileiro, mãe dos meus amigos Marcelo, Cássia e Marcinho, porque nunca o Cruzeiro perdia quando a gente se reunia lá para ouvir os jogos. E tive motivos para detonar os meus tios no feriado de 07 de setembro.


Era o ano do Sesquicentenário da Independência do Brasil e aquela finalíssima tinha o gosto especial de ser disputada no feriado nacional. O campeão sairia de qualquer jeito, mas, nenhum time entrara com vantagem. Assim empate no tempo normal, levaria a prorrogação e pênaltis. O Cruzeiro chegara as finais com apenas uma derrota para o América.


Tivera que trocar de treinador no meio da competição saindo Yustrich (Dorival Knippel), o homão, disciplinador rígido e entrando no lugar dele, o grande Ílton Chaves, palavras mansas, comando inteligente, coragem para lançar jogadores e um estrategista de mão cheia.


O Cruzeiro tinha vendido Tostão para o Vasco e perdera Perfumo por contusão. Para a finalíssima do Campeonato Mineiro perdera o seu melhor jogador Dirceu Lopes, vítima das entradas violentas dos jogadores atleticanos no clássico do quadrangular final, que terminou com os dois times com 8 pontos. Dirceu Lopes não podia jogar, mas, fez questão de concentrar e ficar sentado no banco de reservas, dando força ao garoto Palhinha que fora escolhido para substituir o craque.


Foi nesta hora que o conhecimento das coisas da base, permitiu a Ílton Chaves dar vez a dois garotos sensacionais: Roberto Batata e Palhinha. O Cruzeiro ainda perdera também Morais que não passou no teste de vestiário. Mas, o Cruzeiro teve garra, teve coração, teve transpiração, técnica, inteligência e também estratégia.


E foi um jogão de bola, que começou com os garotos do Cruzeiro fazendo uma tabela sensacional que enlouqueceu Raul Fernandes, também conhecido como Raul Feio (no tempo em que compôs o grupo do Cruzeiro, por ser comparado ao goleiro Raul Plassmann), que isolou a córner, quando poderia ter saído jogando. Fontana fez o que fazia sempre. No primeiro lance do Dario para cima dele, mostrou logo o cartão de visitas, mas, deu azar, pois o juiz lhe mostrou o amarelo. Na falta, Romeu Cambalhota bateu, mas a zaga aliviou.


O adversário voltou a tentar a abertura do placar com Dario, mas, Hélio defendeu o chute. No revide, o meia Toninho deu uma entrada em Palhinha que machucou a cabeça e o joelho. O jovem da camisa 10 voltou a campo, cheio de raiva e provocado começou a incendiar o jogo. Passou a chamar o jogo para si, sofreu falta perigosa de Toninho que Zé Carlos cobrou magistralmente para bela defesa de Mazurkiewicz.


Na defesa Hilton invertera a posição de Fontana com Darci Menezes que era mais rápido e conseguiu marcar melhor a Dario.


Acertando a marcação, o nosso meio campo começou a se impor ao time atleticano, com Piazza e Zé Carlos arrasando a Toninho e Vanderlei Paiva.


Palhinha foi calçado na área por Raul Fernandes, caiu, mas o juiz não marcou.

Do outro lado Lola, forçou a passagem sobre Fontana, pediu o pênalti também, mas, a falta foi marcada em favor do Cruzeiro.


Uma boa chance foi perdida com Roberto Batata que arrancou pela esquerda e quando ia centrar sofreu o desarme de Raul Fernandes que pôs a córner.


☻ GOL DO CRUZEIRO - Eram 36 minutos do primeiro tempo quando Lima bateu o córner em curva, Roberto Batata subiu mais que a zaga atleticana e escorou para Palhinha que com um toque sutil, venceu ao grande Mazurkiewicz e fez Cruzeiro 1x0. E saiu ensandecido em direção ao banco de reservas do Cruzeiro para dar uma abraço em Dirceu Lopes.


Depois do gol, o Cruzeiro recuou um pouco enquanto o time adversário partiu louco para cima. Aos 42 minutos, Cláudio Mineiro recebeu livre na esquerda e ao invés de centrar para Dario que penetrava livre no meio da zaga celeste, chutou para fora. O time cacarejante ainda teve uma chance na cobrança de falta que Cláudio Mineiro bateu muito mal.


No contra-ataque Batata recebeu, penetrou livre e fuzilou forte, só que no gol o uruguaio Mazurkiewicz defendeu com extrema categoria. E terminou o primeiro tempo.


Os adversários voltaram para o tempo final, com a máxima do esporte “perdido por um, perdido por mil” como lema. Lançaram-se ao ataque. Só que Guerino e Lola prendiam muito a bola pela direita do ataque, onde eram marcados por Fontana e Vanderlei, com a ajuda de Piazza e do outro lado Dario e Romeu eram muito bem marcados por Lauro e Darci com a ajuda de Zé Carlos. O Cruzeiro estava equilibrado em campo.


Aos 6’, Batata lança para a área e Toninho tentando evitar que a bola chegasse até Palhinha, quase marcou contra. Não fosse a grande intervenção do goleiro uruguaio, numa sensacional defesa em dois tempos e o placar já seria 2 x 0 para o Cruzeiro.


Telê Santana fez sair a Guerino e mudou Romeu para o lado direito e fez entrar Serginho pelo lado esquerdo aos 12 minutos do segundo tempo. Aos 14’, Palhinha pôs debaixo das pernas de Vanderlei, enganou Vantuir e chutou para nova defesa de Mazurka.


☻ GOL DO ATLÉTICO-MG - Quando tudo indicava que o Cruzeiro ampliaria a sua vantagem, o time dos emplumados cacarejantes chegou ao gol de empate aos 16’. Cláudio Mineiro cruzou forte e Hélio não conseguiu defender, a bola bateu no travessão. No rebote Fontana tentou aliviar, mas, errou e a bola se ofereceu para o Dario Jacaré, que deu uma bicicleta e empurrou para as redes fazendo o 1x1 no placar.


O gol tranquilizou o time atleticano e o Cruzeiro que até ali tocara mais a bola, passou a ter que voltar ao jogo. Roberto Batata estava muito cansado e errara algumas jogadas em sequência. Aos 28’ foi sacado do time pelo técnico Ílton Chaves que fez entrar Baiano, para dar um gás e prender Cláudio Mineiro atrás. O comentarista do jogo na Rádio Guarani comentava que Batata cansado e com uma perna só, era mais jogador que Baiano.


Só que na primeira vez que ele tocou na bola, ele quase fez um gol que foi salvo milagrosamente pela perna de Vantuir. Passava dos 39’ quando Lima entrou na área e foi lançado por Palhinha, dominou a bola e na hora de chutar e estufar o barbante, quis dar mais um drible e perdeu a bola para Toninho.


Aos 42’, Palhinha chutou violentamente a bola passou pelo Mazurkiewicz e foi na trave, se oferecendo limpa para o ponta Luiz Carlos, que errou bisonhamente o alvo. Os minutos finais do tempo regulamentar foram muito tensos com cada time procurando se cuidar defensivamente. Lima ainda bateu um córner com muito veneno e a bola já ia se oferecendo para o Baiano, quando Vanderlei antecipou e fez o corte. Os times foram aos vestiários para um descanso de 10’, antes de voltarem para a prorrogação.


Logo a 1’, Serginho sofreu falta na esquerda, bateu alto. Dario e Fontana erraram a cabeçada e a bola sobra limpa para Romeu que chuta para fora.


Aos 7’, Dario já cansado demais perde a bola para Vanderlei, agride o lateral cruzeirense covardemente e o juiz nada ousa fazer...Aos 10, da prorrogação Palhinha parte em altíssima velocidade para o ataque e é parado por Cláudio Mineiro com falta violenta e novamente não punida por Sílvio David. Na cobrança Zé Carlos ajeita para Lima que chuta por cima.


Eram 12’ do primeiro tempo da prorrogação, quando Ílton Chaves lança o garoto Eduardo no lugar de Luiz Carlos. Antes de acabar esta etapa, Dario lança Lola que chuta forte para ótima defesa de Hélio.


Aos 5’ do segundo tempo da prorrogação, o ponta Romeu que prometera um gol a sua amada nas rádios de BH, tenta virar herói, mas erra o alvo e foi vaiado de forma ensurdecedora por toda a torcida azul. Aos 8’, Serginho e Lola tabelaram e a bola sobrou para Dario que foi surpreendido pela classe de Piazza e perdeu a bola.


☻ GOL DO CRUZEIRO - No contra-ataque Vantuir como último recurso, teve que pôr a córner. Eduardo bateu o córner na cabeça de Fontana, que furou. Palhinha veio por trás, testou firme de cima para baixo e fez um golaço, com a bola estufando a rede pelo alto. Palhinha com a camisa 10 azul quase deu a volta olímpica antecipada no Mineirão de tanto que comemorou aquele gol.


Dali para frente o Cruzeiro esfriou o jogo e deu um verdadeiro banho de bola. Mas, emoção mesmo estava guardada para o final do jogo, pois Dirceu, mesmo com a perna machucada, invadiu o campo para abraçar Palhinha que fora o grande herói do jogo, aos 22 anos de idade escrevia seu nome nas Páginas Heroicas Imortais do Cruzeiro pela primeira vez.


SÚMULA DA PARTIDA: CRUZEIRO 2 X 1 ATLÉTICO-MG


♦ MOTIVO: FINALÍSSIMA DO CAMPEONATO MINEIRO DE 1972

♦ LOCAL, DATA e HORA: Mineirão, Belo Horizonte, 07/09/1972, 16:00 h

☺ CRUZEIRO: Hélio, Lauro, Darci Menezes, Fontana e Vanderlei; Piazza e Zé Carlos; Luiz Carlos (Eduardo), Roberto Batata (Baiano), Palhinha e Lima. DT: Ílton Chaves

☻ ATLÉTICO-MG: Mazurkiewicz, Oldair, Raul Fernandes, Vantuir e Cláudio Mineiro; Vanderley e Toninho; Guerino (Serginho), Lola, Dario e Romeu. DT: Telê Santana

♦ Gols: Palhinha aos 36’ do 1º T e 9’ do 2º tempo da prorrogação + Dario a 6’ do 2º T.

♦ Arbitragem: Silvio Gonçalves + Aluísio Gonzaga e José Felipe, com boa atuação.

♦ Anormalidades: não reportadas.

♦Público Pagante: 63.011 pessoas

♦Renda: Cr$ 402.097,00 (ticket médio = Cr$ 6,38 ou US$ 1.07)


☻ As homenagens desta coluna vão para: Ademar de Carvalho Barbosa Filho, Rubens Silveira Coelho, Sebastião Costa Filho, Gustavo Nolasco, Marcelo Brasileiro, Filipe Diniz Duarte, Isaac Mirai, Márcio Yguer, Mariza Lobato, Shara Rodrigues, Sandrinha Fernandes Laura Estrela e muito especialmente para Renatinha Batista.


E de Conceição do Mato Dentro-MG: homenagem especial à família do grande Silvério Costa Guerra e D. Cruzinha Carneiro Guerra e seus filhos Haroldo, Orlando Augusto (nosso grande jornalista esportivo - Jogada de Classe), Emerson e Silma.

“Cruzeiro, Cruzeiro Querido...Tão Combatido, Jamais Vencido”

Por: João Chiabi Duarte - @JoaoChiabDuarte

Edição: Renata Batista - @Re_Battista

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