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  • Foto do escritorJoão Chiabi Duarte

Campeonato Mineiro de 1967 - Nosso 16º Título

◘ Regulamento: A competição teve a participação de doze equipes: América-MG (Belo Horizonte) + Araxá (Araxá) + Atlético-MG (Belo Horizonte) + Cruzeiro (Belo Horizonte) + Democrata-SL (Sete Lagoas) + Formiga (Formiga) + Nacional-UB (Uberaba) + Uberaba (Uberaba) + Uberlândia (Uberlândia) + USIPA (Ipatinga) + Valério-MG (Itabira) + Villa Nova - MG (Nova Lima). Elas jogaram entre si em turno e returno, com o torneio sendo disputado em pontos corridos. A equipe campeã garantiria vaga na Taça Brasil 68.

Então, como aconteceu o empate em pontos ganhos, mais uma vez, o certame de um ano iria ser decidido no ano seguinte.


É preciso salientar que o time cacarejante perdera larga dianteira na reta final e vira o título lhe fugir das mãos de maneira inesperada, lançava o goleiro Luizinho para substituir a Hélio, injustamente acusado de ter ficado rindo, após ver um fácil 3x0 que acontecia até os 15’ do segundo tempo se transformar em 3x3, quase derrota no clássico do final de novembro de 67.


A coisa foi tão grotesca que o time atleticano se complicou e perdeu jogos fáceis na reta final, terminando a 22ª rodada, empatado com o Cruzeiro.


A primeira partida foi realizada no dia 14/01/68 e a segunda aconteceria uma semana depois.


E o jogo começou em ritmo alucinante, altíssima velocidade como gostam de jogar os cacarejantes historicamente. E logo aos 5’ de partida, Beto Bom de Bola (este mesmo que mais tarde seria diretor de futebol do time atleticano) deu um lençol em Vicente e tomou o “rapa” dentro da área. Bola na marca de cal apontada de forma incontinente pelo mais famoso juiz do futebol brasileiro da época: Armando da Rosa Castanheira Marques.


Ronaldo Drummond (que anos depois estaria participando da conquista de Libertadores em 1976 pelo nosso time) bateu no canto esquerdo e Raul defendeu parcialmente com Pedro Paulo mandando para o mato.


Aos 8’, Tião Cavadinha foi ao fundo e cruzou na medida para Ronaldo que meio caído chutou com força. A bola bateu no travessão e voltou longe da área.


Aos 13’, Beto recebe a bola, passa por Zé Carlos e deixa Ronaldo na cara do gol. Raul sai da meta, cresce, fecha o ângulo, o garoto apavora e chuta para fora.


Até ali, o Cruzeiro estudara o adversário. Mas, após este momento inicial de sufoco (os primeiros 15’ da decisão), conseguiu colocar o jogo num ritmo mais cadenciado que muito nos interessava, afinal a nossa escola de jogar bola era a ACADEMIA. E com o futebol de toque de bola envolvente, aos poucos foi colocando o adversário na roda. O time se compactou mais e o talento celeste começou a aparecer.


Aos 18’ Tostão passou por Vanderlei Paiva, limpou o lance, tabelou com Evaldo, que escapou pela esquerda. Canindé veio nele para quebrar e foi driblado pelo centroavante que avançou em direção à linha de fundo como se fosse Hilton de Oliveira e cruzou no segundo pau onde Natal entrou livre para cobrir a Luizinho e por lá dentro. Vander e Grapette ainda tentaram fazer alguma coisa, mas, o máximo que conseguiram foi ficarem engastalhados na rede. Cruzeiro 1x0 e alegria naquela fatia do estádio que crescia a olhos vistos, à direita das cabines de rádio.


Tanto assim, que rapidamente começaram a nos chamar de China Azul, tão rápido crescia o número de adeptos da camisa azul celeste estrelada.


E a partir daí, o talento de Tostão começou a luzir. Vanderlei, o volante atleticano, que tentava marcar o craque cruzeirenses se desgovernou com a movimentação do camisa 8 do Cruzeiro. Ele estava em todos os lugares. Invertia de posição com Zé Carlos, fazia rodízio com Natal/Hilton e se transformava num verdadeiro azougue para o time alvinegro.


Com isto, o esquema tático proposto para o time cacarejante com Tião jogando “a la Zagalo” fechando o 4-3-3 ou senão com a volta de Ronaldo pelo meio, começou a ruir.


Vanderlei não sabia se fixava no meio dos beques, se marcava a Tostão no campo inteiro ou se apoiava saindo para o jogo. Amauri errava muitos passes e estava nervoso. Por fim, depois de correr atrás do Tostão e não o achar, acabou por se fixar na frente da área protegendo os beques. Tião não fazia nem atacar e nem defender. E o toque de bola envolvente do Cruzeiro, mais o comando cerebral de Tostão, ainda gerou mais umas 2 ou 3 ótimas oportunidades que foram perdidas por Evaldo e Dirceu Lopes.


O 1º tempo terminaria em 2x0 para o time cruzeirense pois numa grande jogada Tostão percebeu a movimentação de Natal e lhe meteu a bola, nas costas de Décio Teixeira. Natal entrou na área fintou a Luizinho e chutou fraco para o gol vazio. Vander ainda tentou tirar a bola, mas, chutou contra as próprias redes para estabelecer o placar parcial Cruzeiro 2x0. Mais festa na torcida azul. E desespero a olhos vistos no lado emplumado.


Buião que iniciara o jogo levando vantagem em cima de Neco e chegara obrigar a Raul a fazer uma defesa espetacular chutando cruzado lá na gaveta, agora não tinha tanta facilidade assim, pois Procópio ou Zé Carlos fizeram as coberturas e fecharam a porta.


Aliás, Zé Carlos não só fez a cobertura de Neco, como arrasou com Amauri no meio-campo, tomando várias bolas dele e iniciando assim as ações ofensivas do time azul.

O Cruzeiro só poderia levar gol numa falha individual e ela aconteceu. Neco foi brincar numa jogada, Buião lhe bateu a carteira, entrou na área e driblou a Raul, chutando para o gol vazio, diminuindo a vantagem cruzeirense para 2x1. A tendência agora era o time atleticano vir com tudo para tentar empatar a partida. A torcida empurrando e tudo o mais. Mas, não deu nem tempo do time alvinegro comemorar o gol, pois logo na sequência, veio o lance que selou a sorte da partida.

Aos 24’ da etapa final, Tostão trocou passes com Evaldo entre a intermediária e a grande área defendida pelo time cacarejante. Evaldo melou a bola para a canhota poderosa de Tostão que soltou a bomba e como o lance foi praticamente a queima-roupa Luizinho não conseguiu segurar firme e soltou a bola. Natal aproveitou a sobra e fez 3x1, selando o destino cacarejante.


A partir daí a defesa do time deles se intranquilizou por completo e o Cruzeiro se fartou e perder chances. Mas, algo me diz que estava guardando para a segunda partida das finais.

Atlético/MG 1x3 Cruzeiro

SÚMULA DO JOGO: Atlético-MG 1x3 Cruzeiro


☻ Motivo: 1ª Partida das Finais do Campeonato Mineiro de 1967

☻ Local, Data e Hora: Mineirão, Belo Horizonte, 14/01/1968 (domingo), 17:00 h

☺Cruzeiro (4-2-4): Raul, Pedro Paulo, Vicente, Procópio e Neco; Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira.

DT: Orlando Fantoni.

☻ Atlético-MG (4-3-3): Luizinho (Mussula), Canindé, Vander, Grapette e Décio Teixeira; Vanderley, Amauri e Ronaldo; Buião, Beto (Adílson) e Tião.

DT: Fleitas Solich.

☻ Arbitragem: Armando Marques + Eraldo Gangora e Wilson Antônio de Medeiros, com boa atuação. O trio de arbitragem custou NCr$ 3.000,00 (ou seja mil arquibancadas). ☻ Renda : NCr$ 248.895,00... Nota da época : Uma arquibancada custava NCR$ 3,00 (54.475), uma geral custava NCr$ 1,00 (27.035), uma cadeira numerada custava NCr$ 10,00 (4.714), uma cadeira especial custava NCr$ 15,00 (753)

☻ Público Pagante : 86.977

☻ Gols: Natal a 18’ e 69’, Vander (contra) a 35’ após chute de Natal e Buião a 64’.


O segundo jogo das Finais do Mineiro de 1967


O regulamento previa a disputa em melhor de três partidas e neste segundo jogo teve de tudo um pouco. Piazza de fora por contusão. Mas, o time não sentiu demais a ausência do grande capitão e líder, porque o nosso elenco era muito qualificado.


O jogo começou muito nervoso e a grande mudança impetrada por Fleitas Solich foi colocar Vanderlei Paiva para seguir Tostão em todos os cantos do gramado. Mas, Tostão além de ser craque, de antever as jogadas, de saber jogar em um toque ou driblar em progressão, tinha uma capacidade de ler o jogo impressionante. E é numa destas situações que se percebe a diferença brutal entre o craque e o bom jogador.


Sabem o que fez Tostão?


Recuou e começou a jogar de volante, literalmente trocando de função com Zé Carlos que junto com Dirceu Lopes alinhava no tripé de meio.


E Tostão deu show, desarmou, apoiou e vinha de trás buscando sempre o espaço vazio. A visão de jogo do craque matou o time cacarejante emplumado.


Aos 8', Tostão passou como quis por Vanderlei, adiantou a bola e chutou cruzado. Hélio (de volta ao gol atleticano), quase foi traído pelo golpe de vista, pois a bola pegou efeito e quase entrou.


Aos 14', Tostão atraiu a marcação e quem penetrou livre foi Evaldo, que recebeu e chutou com violência incrível. Hélio não conseguiu segurar, deu rebote e Natal emendou de primeira, a bola bateu nele, no travessão e saiu a corner.


Zé Carlos jogava livre no meio, sem a marcação de Amaury, que parecia completamente aéreo em campo. E o que dizer de Dirceu Lopes, Natal, Evaldo e Hilton Oliveira?


Colocaram uma velocidade absurda na transição das jogadas, e Hilton de Oliveira começou a ganhar todas de Canindé na corrida. O lateral cacarejante tomou um dos maiores vareios de bola da história. Apelou, fez faltas desclassificantes, mas, a arbitragem preferia só advertir verbalmente. Tostão tomou muitas faltas, mas, nunca foi de arregar. Também havia aprendido a se defender (sempre jogou no meio dos maiores desde os 10-12 anos de idade nas peladas do conjunto IAPI) e numa delas deixou um "prego" para o Grapette chutar e ficar uns 5' manquitolando do lado de fora (meu pai assistindo ao jogo ao meu lado falava assim...”levanta pongó que futebol é prá macho...” e com um sorriso no rosto, sempre falava assim : "este Tostão é um fenômeno"... no que estava absolutamente certo).


Mas, a vantagem futebolística do Cruzeiro não se transformava em gols, pela falha no último passe e principalmente pela boa atuação do beque deles (Vander).


Entretanto, aos 41' do primeiro tempo, Zé Carlos lançou Hilton Oliveira na ponta-esquerda. O ponta balançou, passou como quis por Canindé e cruzou a bola para a área. Evaldo, sempre muito inteligente, fez um corta-luz e levou a marcação de Vander e Grapette. E quem apareceu de surpresa no segundo pau foi Tostão que pegou de sem-pulo e fez um papo na rede de Hélio, saiu festejando e só foi parar nos braços dos colegas no túnel do Cruzeiro. Tostão, saiu correndo e socando o ar. Impossível não me recordar de Jota Júnior, gritando gol e dizendo que o 8 estava brilhando no placar... E o placar mostrava Cruzeiro 1x0 Atlético-MG.


E a torcida celeste, a China Azul, a que mais crescia, sob o comando e regência da charanga do mestre Aldair Pinto, começava a cantar "um-dois-três...o galo é freguês".


A pressão baixou para cima dos jogadores cacarejantes, uma nova derrota resultaria na perda do título já na segunda partida. Fleitas Solich resolveu tirar Lacy antes de acabar o primeiro tempo, coisa que era incomum naquele tempo, talvez incomodado com a má performance do time alvinegro. Mas, tal qual um boxeador que levanta de um “knock-down”, o time cacarejante tomou outro contra-vapor na ponta do queixo.


Aos 45', num replay do primeiro lance, Hilton deixou Canindé na poeira e cruzou a bola. Tostão chutou e Vander conseguiu ficar livre do problema, afastando parcialmente, só que a bola foi na direção de Dirceu que a devolveu para o fundo das redes de Hélio para fazer 2x0. E Dirceu, um dos maiores carrascos do time cacarejante emplumado, comemorou com gosto de título. Cruzeiro 2x0 Atlético-MG.


Vanderlei já não sabia se marcava Tostão ou ajudava a Canindé. Amaury não conseguia achar Dirceu Lopes em campo e Zé Carlos não errara nenhum passe... era um verdadeiro massacre, tático, técnico e de raça do time cruzeirense. O fato de Zé Carlos ter jogado livre o tempo inteiro explica o porquê da irritação de Fleitas Solich com Lacy.


Nas arquibancadas um novo coro surgia "é ou não é...piada de salão...o time de cachorro...querer ser campeão" alusão clara a adjetivo “cachorrada” dado aos torcedores alvinegros até por eles mesmos.


O meio-campo do Cruzeiro passeou em campo, na etapa inicial, numa imposição técnica absurda. E o time alvinegro teria que voltar com tática suicida se quisesse almejar alguma coisa. Só que voltou mais recuado ainda, com medo de uma goleada, trouxe Tião para completar o meio numa linha de 3 jogadores.


Só que era o jogo de um time no qual todos jogavam bem contra outro que jogava mal em sua grande maioria.


E a verdadeira pá-de-cal veio aos 12' do segundo tempo. Natal cobrou a falta pelo lado direito do ataque e a bola subiu, subiu muito mesmo. Na descida Tostão e Amaury disputaram a cabeçada, mas, a sobra acabou ficando para Evaldo que colocou nas redes e saiu vibrando... Agora já estava escrito nas estrelas com letras garrafais Cruzeiro 3x0 Atlético-MG ...o tri-campeonato já era nosso.


Vicente que havia entrado no time jogava o fino da bola, não errava um bote, antecipava e jogava com uma raça incrível. Pedro Paulo anulou Tião. Ronaldo, Lacy e Beto não arrumaram nada com Procópio. E aqueles times jogariam mais um ano e eles não fariam gol na gente. A superioridade foi flagrante demais. O time deles literalmente pregou de tanto correr atrás dos nossos craques. Tostão humilhou Vanderlei, tirando-o de sua zona de conforto. Dirceu fez o que quis. Se o time do Cruzeiro tivesse forçado mais teria feito o placar histórico do clássico. Tostão mostrava em Minas, que o Rei Pelé tinha postulante ao cetro. Dirceu Lopes era o príncipe da bola. Mas, quem brilhou demais neste segundo jogo foi Zé Carlos, que não errou um passe no jogo e começou todas as jogadas mais contundentes do time.


E a torcida começou a cantar o famoso "ai, ai, ai, ai...tá chegando a hora..." com 30' de jogo no segundo tempo... A cachorrada indo embora, com o rabo no meio das pernas. A provocação aos vizinhos começou cedo. Pena só faltarem duas semanas de férias que eu passava na casa dos meus tios Oswaldo e Zenaide na Serra (rua Amapá, esquina de rua do Ouro e Palmira). Um dos meus sofredores prediletos era o Salomão, atleticano, dono do bar da esquina. Ele apelava demais, quando eu falava que no Mineirão eles ainda estavam invictos de vitórias.

Cruzeiro 3x0 Atlético-MG


SÚMULA DO JOGO: Cruzeiro 3x0 Atlético-MG


☻ Motivo: 2ª Partida das Finais do Campeonato Mineiro de 1967

☻ Local, Data e Hora: Mineirão, Belo Horizonte, 21/01/1968 (domingo), 17:00 h

☺Cruzeiro (4-2-4): Raul, Pedro Paulo, Vicente, Procópio e Neco; Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira.

DT: Orlando Fantoni.

☻ Atlético-MG (4-3-3): Luizinho, Canindé, Vander, Grapette e Décio Teixeira; Vanderley, Amauri e Ronaldo; Buião, Beto (Adílson) e Tião.

DT: Fleitas Solich.

☻ Arbitragem: Armando Marques + Eraldo Gangora e Wilson Antônio de Medeiros, o mesmo da partida anterior, com boa atuação.

☻ Renda: NCr$ 236.996,00...

☻ Público Pagante: 79.981

☻ Gols: Tostão a 41’, Dirceu Lopes a 45’ e Evaldo aos 57’.

Procópio ergue a taça de campeão (Cruzeiro/Divulgação)


As homenagens desta coluna vão para grandes cruzeirenses da Velha Guarda: Franklin Bronzo, Isaac Mirai, Elias Guimarães, Felipe Fraga Gerçósimo, Gener Danielo Galvão, Zirlei Pereira, Harry Assaf, Eder Lana de Oliveira, Eden Dutra, Alexandre de Aparecida Morais e Márcio Yguer. E para comandar este timaço chamo o nosso rei das Agulhas Negras: Carlos H. C. Campos, que sempre esteve presente nas grandes batalhas do Cruzeiro.


E de Conceição do Mato Dentro-MG: dedico esta coluna com homenagem póstuma ao nosso grande amigo Xisto Guerra da Silva Neto, um grande cruzeirense, craque de bola, canhoto habilidoso, que nos deixou neste último domingo, depois de lutar contra um câncer.


“Cruzeiro, Cruzeiro Querido...Tão Combatido, Jamais Vencido”


Por: João Chiabi Duarte - @JoaoChiabDuarte

Edição: Renata Batista - @Re_Battista




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