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  • Foto do escritorVinícius Fortunato

Nininho, o primeiro ídolo do Cruzeiro!

A crônica de hoje irá relembrar um capítulo triste da história do Cruzeiro. Há oitenta e cinco anos atrás uma tragédia acontecida na capital italiana, Roma deixava milhões de palestrinos de luto no Barro Preto.


Iremos contar a trágica história de Otávio Fantoni, o Nininho, considerado o primeiro ídolo do Palestra Itália.

Otávio, o Fantoni II

Nininho nasceu em Belo Horizonte, no dia 04 de abril de 1907. Iniciou sua carreira de futebol como muitos da época, na várzea belorizontina. Começou em um time chamado Tupi, sediado no bairro Santo Antônio, onde Nininho morou desde seu nascimento.


O Tupi do Santo Antônio era muito pequeno para seu talento e incentivado pelos primos João Fantoni (Ninão) e Leonízio Fantoni (Niginho) que atuavam pelo Palestra, Otávio se transferiu para time do Barro Preto, chamado Palestra Itália.


Segundo registros, já no seu primeiro treinamento, Nininho ganhou a condição de titular. De acordo com relatos da época, ele era um ponta esquerda forte e viril, de grande explosão o que te proporcionava grandes jogadas de velocidade pelas beiradas do campo.


O jogador fez parte do primeiro Tricampeonato do Palestra (história também já contada aqui no blog), em 1930 liderado pelo treinador Matturi Fabbi fez parte do “time-poesia”, considerado por muitos o melhor time mineiro da época.


Tanto sucesso não passou despercebido e no auge do Campeonato Mineiro de 1930, um Italiano de origem portuguesa chamado Raul Campos, de passagem por Belo Horizonte, resolveu acompanhar alguns jogos do Palestra Itália e ficou bastante empolgado com o futebol de Nininho e Ninão, craques do clube. Nininho, o ponta esquerda infernal, moderno, fazia jogadas de linha de fundo como ninguém, Ninão um atacante goleador, artilheiro dos três torneios que configuraram o Tricampeonato (28, 29, 30) e muitos destes gols com assistências do primo. Após um destes jogos Raul se apresentou oficialmente aos primos Fantoni, como um representante da Lazio, um grande clube da capital italiana. A ideia do Luso-Italiano era contar com o futebol dos dois no clube.

Inicialmente, ambos não levaram muita fé nas palavras e promessas feitas e seguiram suas vidas, porém, não demorou muito para que o contato ocorresse novamente, desta vez um telegrama assinado pela direção da Lazio oficializou o interesse no clube italiano nos jogadores palestrinos.


Segundo um depoimento do próprio Ninão ao livro “Futebol no Embalo da Nostalgia” do saudoso Plínio Barreto, ao receber o telegrama diretamente de Roma, os primos decidiram responder o mesmo solicitando uma garantia financeira, já que seria uma drástica mudança para eles e seus familiares.


Não demorou muito até que o Banco Pelotense, na época situado na Praça 7, entrasse em contato informando que estavam em seu poder a quantia de 40 contos de réis, creditados a Ninão e Nininho, depositado em nome do clube italiano.


Com todos as garantias asseguradas, no dia 4 de abril de 1931 (aniversário de Nininho), o Diário da Tarde estampava em seu caderno de esportes a matéria que contava com detalhes a transferência dos Fantoni, do Palestra para a Lazio. Segundo relatos do jornal, dois dias antes, na quinta feira 02 de abril de 1931, Palestrinos lotaram a Estação Central para despedir de seus ídolos que se tornavam os primeiros brasileiros a se transferirem para o futebol italiano.


De Belo Horizonte eles foram para o Rio de Janeiro, onde tomaram um navio junto de suas esposas e filhas e em uma sexta-feira, dia 17 de abril de1931, os Fantoni desembarcavam em Roma, predestinados a fazer história nos campos italianos.


Assim como no Palestra, Nininho se destacou ganhando a titularidade já no seu primeiro treinamento e depois disso mais sucesso, ele foi considerado por três temporadas o melhor ala esquerda do futebol italiano, fama que lhe proporcionou atuar pela seleção italiana de futebol.


A ida dos Fantoni para a Itália abriu as portas paras outros jogadores brasileiros com descendência italiana. No ano seguinte ambos receberiam a companhia de Niginho, o outro Fantoni que fazia sucesso com a camisa do Palestra Itália. Além deles, a Lazio trouxe outros brasileiros na época, o que faria seu elenco ficar conhecido como Brasilazio: os corintianos Filó, De Maria, Del Debbio, Rato e Amílcar; os palestrinos paulistas Pepe, Duílio Salatin, Enzio Serafini; além de André Tedesco (do Santos) e Benedito (do Botafogo).


Diferenciado dos Fantoni, apenas Nininho fez parte da seleção italiana, só não disputou a Copa do Mundo de 1934 devido a uma contusão, mas disputou as eliminatórias.


No inverno de 1935, no meio da temporada italiana, aconteceria o trágico momento que daria fim precocemente a brilhante carreira de Otávio Fantoni.


No dia 20 de janeiro de 1935, Nininho estava em campo para o encontro de Lazio e Torino. Em uma disputa normal de partida, Nininho se chocou contra o meio campista do Torino, Fioravante Baldi. O choque ocasionou uma fratura no nariz de Nininho que teve que deixar o campo, de lá ele foi encaminhado ao hospital, até então sem grandes preocupações, já que o trauma se tratava de um incidente comum de jogo. Porém, a lesão não evoluía e após duas semanas internado o ex- palestrino foi acometido por uma infecção hospitalar.


Em 8 de fevereiro de 1935, sem explicações mais detalhadas, Nininho não resiste a infecção e tem seu óbito decretado, a causa uma septicemia.


O acontecimento se espalhou rapidamente e toda capital italiana se colocou de luto com a triste notícia. O famoso jornal “Corriere Dello Sport” noticiou a trágica morte com a seguinte manchete: “Um lutto del Calcio Italiano – La morte di Ottavio Fantoni”.

A gigante fama de Nininho fez com que seu cortejo passasse pelas tradicionais ruas de Roma e seu caixão foi levado por companheiros da Lazio e da Roma, os dois times locais adversários declarados. Todo trajeto foi acompanhado de milhares de torcedores, com discursos de dirigentes de Lazio e Roma e antes do caixão ser colocado no colche fúnebre, em direção ao Cemitério de Verano onde Nininho está enterrado, um torcedor em um ponto alto onde acompanhava todas as homenagens gritou: Ottavio Fantoni! E todos responderam em coro: PRESENTE!


Encerrava assim a carreira do primeiro ídolo do Cruzeiro Esporte Clube, até então Palestra Itália.

Foto de Luiz Otávio Trópia Barreto. Livro - de Palestra a Cruzeiro, uma trajetória de glórias.


No mesmo ano, Ninão e Niginho voltaram ao Brasil, consequentemente ao Palestra. Ninão encerrou sua carreira sem muito destaque, mas é até hoje reconhecido como o maior artilheiro do Palestra Itália. Niginho, antes de retornar ao Palestra, jogou no Palestra Paulista e Vasco da Gama, chegou a jogar a copa de 1938 pela Seleção Brasileira e em 1939 retornou ao Barro Preto, onde assim como seu irmão e primo, se tornou ídolo e encerrou sua carreira em 1949 já com o clube sendo chamando Cruzeiro Esporte Clube. Ele ainda foi treinador e Tricampeão pelo Cruzeiro, nos anos de 1959/60/61.


Liderados por Ninão e Nininho, os Fantoni tem seu nome gravado nas páginas heroicas imortais do Cruzeiro, com diversas gerações que tem em comum o amor e os serviços prestados ao maior clube de Minas Gerais.

A família Fantoni está enraizada na história do Cruzeiro. Foto: Reprodução/Twitter @PaginaHeroica


VAMOOOOOOOO, CRUZEIROOOOOOOOO!!!


Por: Vinicius Fortunato - @fortunatoxD

Edição: Renata Batista - @Re_Battista

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