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  • Foto do escritorEzequiel Silva

Campeonato Mineiro: resistência de Palestra a Cruzeiro

O Campeonato Mineiro é o torneio onde a bravura do Cruzeiro mais vezes foi colocada à prova. É a competição que melhor ilustra a ideia da resistência palestrina, da luta para estabelecer-se como uma força do cenário futebolístico local. Assim tem sido desde a primeira edição em que o Palestra Itália participou, lá em 1921. Um clube renegado, mas que com altivez conseguiu firmar presença e incomodar muito os seus principais adversários.


Em que pese o fato de o torneio existir desde 1915 - seis anos antes da fundação do Palestra -, o Maior de Minas possui somente seis conquistas a menos que o primeiro colocado geral; o que, pelo histórico de desacertos que já ocorreram em seu desfavor no certame regional, é um grande feito. O Cruzeiro detém atualmente 39 troféus estaduais. Destes, 5 títulos foram conquistados ainda como Palestra Itália. Todos legítimos.


O Palestra Itália foi o primeiro a desafiar a hegemonia construída pelo América no Campeonato da Cidade entre 1916 e 1925, quando em 1922 fez uma campanha tão brilhante que obrigou o time da Alameda a disputar uma final pela primeira vez, em muitos anos. Na época, o torneio era jogado no sistema de pontos corridos, e tanto Palestra quanto América terminaram o turno empatados em todos os critérios.


O Palestra não venceu aquela final, mas mostrou a que veio. O incômodo dos demais times, e dos organizadores, começava ali. Dentre tantos episódios escusos, os dois a seguir merecem um breve destaque.


A primeira taça foi conquistada em 1926, após uma briga entre o clube e a LMDT (Liga Mineira de Desportos Terrestres), organizadora do torneio à época e precursora da atual FMF (Federação Mineira de Futebol), onde o Palestra se viu obrigado a fundar outra liga para continuar existindo, a AMET (Associação Mineira de Esportes Terrestres), registrada e prontamente reconhecida pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos).

Niginho, o primeiro grande ídolo palestrino/cruzeirense, conquistou seis títulos mineiros, como jogador: 1930, 1940, 1941, 1943, 1944 e 1945. Ainda faturou três títulos como treinador: 1959/60/61. Foto: Arquivo Estado de Minas


Um grande ato de coragem dos palestrinos após a atitude autoritária da LMDT (apoiada por outros clubes), que resolveu expulsar o Palestra do seu quadro de filiados depois que o time realizou um amistoso para arrecadar fundos na cidade paulista de Caçapava, sem a sua prévia autorização. Perante a tirania, os dirigentes palestrinos resistiram firmes, e o Palestra venceu o torneio organizado junto com outros times outrora rejeitados pela LMDT.


Quando a AMET preparava o campeonato da temporada seguinte, o Palestra foi convidado para retornar ao quadro da LMDT, devido ao grande valor que já representava, apesar de jovem. Sendo pontos importantes para esse valor: a imensa torcida palestrina, que desde sempre lotava as arquibancadas do Estádio do Barro Preto, com médias de público superiores às das outras equipes locais; e o próprio estádio, que era o maior de Belo Horizonte e o único da cidade chancelado pela CBD para receber grandes jogos, inclusive noturnos, pois já contava com estrutura completa de iluminação.


O título de 1926 do Palestra é tão legítimo quanto o do Villa Nova de 1932, onde o time metropolitano também organizou e venceu um torneio independente, após outra cisão na LMDT. Curiosamente, o título do Villa foi reconhecido pela LMDT (atual FMF), e o do Palestra não.


Já na Era Cruzeiro, o clube se viu obrigado a dividir o campeonato de 1956, onde o Atlético Mineiro insistiu em seu ponto de vista errôneo de manter a escalação irregular de um lateral esquerdo, de nome Laércio, para a disputa das finais. O atleta em questão não cumpriu com as suas obrigações militares, infringindo o regulamento da época, e mesmo assim foi estranhamente registrado pela federação local. A peleja foi até o nível federal, com vitória favorável ao Cruzeiro, claro. Mas o time do outro lado preferiu fugir à luta e, armado de uma liminar, não enfrentou o Cruzeiro no jogo final. A federação, porém, não entregou os pontos nem a taça ao Cruzeiro, preferindo agradar ao outro time e dividir o troféu entre ambos, dois anos depois, para não ser punida pela CBD.


O estadual montanhês é um torneio rodeado de acontecimentos “estranhos”, regulamentos obscuros e balanças com pesos desiguais, mas que, por uma questão de respeito aos fundadores e primeiros integrantes do Palestra Itália, temos que disputar e sempre brigar para sermos campeões. É uma competição que, ao longo dos anos, ficou pequena para o clube, que virou um time do mundo. No entanto, vencer o Campeonato Mineiro é, sobretudo, a arte de persistir para existir e seguir incomodando quem nos odeia.

Kléber Gladiador comemorando gol na goleada de 5x0 do Cruzeiro na final do Mineiro de 2009. Foto: Marcelo Prates/arquivo Hoje em Dia


Pois, foi no estadual (inicialmente, Campeonato da Cidade), que o Palestra firmou as bases que tornaram possível, anos depois, o surgimento do gigante Cruzeiro. A luta para manter-se vivo diante de tantas adversidades em nossa história não pode ser esquecida, uma vez que, é ela a principal responsável por moldar o espírito aguerrido que fez do time da colônia o maior do estado, e um dos maiores do Brasil.


2022 é o ano da retomada.


Abraços aos amigos do DebateZeiros!



Por: Ezequiel Silva - @ezequielssilva89

Edição: Renata Batista - @Re_Battista


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