Atletiba: união política de rivais contra o “pacto” do Eixo
Na tarde do último domingo, 19/02, seria realizado mais um Atletiba da história. Sim, eu disse seria. O jogo válido pelo campeonato Paranaense não ocorreu devido a imbróglios políticos envolvendo os dois clubes, a federação do estado e a afiliada da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão.
Os dois grandes paranaenses se negaram a assinar contrato com o grupo Globo por entenderem ser a quantia oferecida, que girava em torno de 1 milhão à 1.5 milhões de reais, insatisfatória para o patamar das equipes se comparada aos outros clubes. Segundo tabela obtida, os dois clubes de serie A receberiam o mesmo valor, ou um pouco mais, pelas transmissões que os modestos Bangu, Volta Redonda, Madureira e Boa Vista. Revoltados com a oferta da mandatária do futebol nacional, as duas equipes se reuniram e optaram por revolucionar o futebol e transmitir o clássico diretamente de suas respectivas contas do YouTube. Com narrador e comentaristas cedidos pela rede de TV Esporte Interativo, a bola estava prestes a rolar, porém a Federação informou ao árbitro que aqueles profissionais não estavam licenciados para cobrir o jogo e não faziam parte da emissora detentora do campeonato impedindo a realização da partida e frustrando o público presente.
No caso ocorrido, por ser uma partida em que nenhum dos clubes tem contrato assinado com a empresa, o direito de transmissão por lei é dos próprios clubes e eles fazem dele o que bem entenderem. A Federação usou de sua autoridade para impedir um direito dos clubes e defender os interesses de uma rede de televisão.
A iniciativa dos rivais paranaenses não é nenhuma novidade. Há dois anos, na eleição do presidente da Confederação Paranaense, os dois clubes e o Paraná lançaram a candidatura de um candidato próprio, Ricardo Gomyde, e romperam com a entidade estadual. Na ocasião a situação venceu com a reeleição de Hélio Cury, mas o marco inicial, de uma possível reforma, foi implantado.
Outros fatos chamam a atenção no comportamento dos rivais. Coletivas em conjunto das duas diretorias. Patrocinador fechado em conjunto. Primeiros clubes a fecharem com o Esporte Interativo para as temporadas de 2019 a 2024, fugindo do monopólio “Global”. Além de terem sido eles os principais fermentadores da inclusão da Primeira Liga no calendário nacional em 2016 (que ambos saíram no ano atual por discordarem da divisão de cotas) e com isso deram a cara a bater perante a CBF e incentivaram outros clubes a fazerem o mesmo.
A união dos rivais é tamanha, que até a compartilhação da Arena da Baixada vem sendo estudada pelos mandatários dos clubes, fato que vem dividindo a opinião dos próprios torcedores.
Certo ou errado, as atitudes da dupla paranaense vem chamando a atenção do Brasil. Em um país em que os recursos financeiros e a influência política fala mais alto que costumes, regras e direitos, é necessário pessoas e entidades com pulsos firmes e opiniões formadas para mudar o rumo do campeonato mais equilibrado do mundo e não deixar que ele vire mais um campeonato espanhol, onde dois ou três times são infinitamente acima dos demais devido às condições financeiras.
O monopólio global e a atual divisão de cotas televisivas mostram exatamente isso. Não apenas no campeonato estadual, mas principalmente no brasileiro, é nítido o “auxilio” maior da entidade detentora dos direitos aos times do Eixo Rio-SP, e principalmente à Corinthians e Flamengo. Além da questão financeira, a quantidade de jogos de cada clube em TV aberta também chama a atenção, pois sempre que e possível a preferência pelos horários nobres futebolísticos é concedida ao mesmo grupo de clubes citados acima. Muitos tratam isso como “Teorias da Conspiração”, mas está cada vez mais claro para nós a intenção das entidades controladoras do futebol nacional em elitizar o campeonato mais democrático do mundo.
Esperamos que mais clubes se unam a Atlético-PR e Coritiba para reivindicarem seus direitos e lutarem por uma divisão igualitária e justa de cotas e de visibilidade. E que não deixem a graça, o equilíbrio e a emoção do futebol serem destruídas por seres autoritaristas e capitalistas.
A equipe DebateZeiros apoia a atitude tomada pela dupla Atletiba, no último domingo, e espera que esses clubes, e os outros que ousarem segui-los, sejam para o futebol nacional, como Tiradentes foi para Minas: revolucionários capazes de se sacrificarem por uma melhoria de todos.