Aos Guerreiros Condás
Como a vida é imprevisível!
Hoje, quase 72 horas após o terrível e trágico voo, a ficha começa a cair e as palavras a sair com mais razão, apesar de ainda carregadas de emoção. Poderíamos hoje estar comemorando um ótimo resultado da Chapecoense na histórica final da Sulamericana, visto que todo o Brasil já tinha um grande carinho por eles. Poderíamos estar zoando nosso rival local por mais uma vez não ser bicampeão de uma competição nacional. Ou apenas estar resenhando sobre futebol e falando das coisas engraçadas e cotidianas da vida. Porem tudo isso foi paralisado de forma inesperada e dolorosa. Afinal, o que é uma partida comparada a uma vida? O que é um título comparado a uma historia como a ocorrida?
A dor pra nós, que estamos longe, é grande. E para quem vive esse time? Para quem perdeu parentes, amigos, ídolos? Não existem palavras para descrever o que essas pessoas estão passando.
Profissionais da área de aviação procuram culpados. Mas de que isso adiantará? Vidas não serão restituídas, historias não serão reescritas e o destino traçado não será apagado. Certas coisas acontecem sem ter um porque e sem ter um "culpado", simplesmente acontecem.
Esposas estão sem maridos. Pais sem seus filhos. Uma torcida sem time. Uma cidade perdeu seu chão, perdeu sua alegria, sua alma. Chapecó perdeu seus maiores representantes. Para os moradores desta cidade esses atletas não eram apenas pessoas que vestiam seu manto e suas cores. Eram amigos, eram parte da família, coisa que só cidades interioranas conseguem fazer.
Como diz a antiga, mas sempre atual música de Legião Urbana "É tão estranho, Os bons morrem jovens...". E como falar em juventude no futebol atual sem se lembrar desse time. Um time que nasceu em 1973 e que em 2008 não disputava nenhuma divisão do campeonato brasileiro. O indiozinho Condá foi crescendo e em 2013 conseguiu o tão sonhado (e até inesperado) acesso a divisão de elite brasileira, permanecendo nela e sem riscos até o presente ano. Em 2016 mais uma grata surpresa, eliminou o "Rei de Copas" da Sulamericana e foi flechando seus adversários ate chegar à final, que seria disputada na noite passada. Com um modelo econômico diferente dos gigantes brasileiros, a Chapecoense mostra que é possível fazer futebol com menos gastos e de forma mais sustentável. E principalmente mostra através de seus diretores que, com uma gestão voltada ao futebol e à torcida é possível sonhar grande.
O orgulho de uma cidade se tornou o orgulho de um país. E o mundo se sensibilizou com o jovem Índio. Índio que foi ferido dura e covardemente pelo destino. A ferida é profunda, a cicatriz ficará para sempre. Mas a esperança de união, de um futebol mais justo e igualitário, menos burocrático e mais humanitário foi acesa, pena que isso tenha custado tantas vidas e deixado milhares de feridos. Feridos física e emocionalmente. Feridos que nem sequer no avião estavam. O Brasil sangra.
Esse time fez historia. E não é pelo fato dessa semana. Fez historia, pois mostrou ao país que a força de uma pequena cidade pode destruir gigantes. Mostrou que sonhos podem ser conquistados com seriedade, planejamento e determinação. Esse time fez como muitos de nós fazemos no nosso dia a dia: jogou fechadinho, na retranca, tímido no seu canto, e como quem não quer nada conquistou o coração de muitos brasileiros que se viam naqueles 11 homens.
Na primeira oportunidade que tiveram estavam lá atrás de seu sonho.
Sonho que virou pesadelo? Não. O sonho continua vivo. Vivo no coração de todos os que ficaram. Vivo com os sobreviventes e moradores de Chapecó que não deixarão esse time acabar. O índio se reerguerá, com a ajuda da Raposa, do Peixe, do Urubu, do Porco, do Galo, do Leão, do Coelho, da Macaca... Mas principalmente com a ajuda de seu povo, da sua tribo. Esse não é o fim, é apenas um recomeço. O guerreiro Condá, com sua garra e seu planejamento, voltara a flechar adversários e corações de admiradores.
Enfim, a equipe DebateZeiros deseja a todos os familiares e amigos das vitimas, a toda a família Chapecoense e ao povo de Chapecó, nossos profundos e sinceros sentimentos. Que os Deuses do futebol os deem a força e o amparo necessário nessa hora de dor e de perda e que essas feridas sejam cicatrizadas na medida do possível. Esperamos que a CBF juntamente com os demais clubes brasileiros proponham medidas de auxilio financeiro e humanitário para todos os afetados pela tragédia. E que essa historia tão bonita e honrosa do nosso caçula do Brasileirão não possa ser destruída por esse trágico episódio. Obrigado Chape por nos mostrar que nesse mundo futebolístico, onde as pessoas são mercadorias, é possível se ter sucesso tendo união e sendo uma verdadeira família, sem vaidades pessoais e com respeito mutuo, e acima de tudo com dignidade e honestidade.
Por: Guilherme Melo